“O Relojoeiro” de Robert Louis Stevenson: Uma Alegoria sobre Ciência, Religião e as Limitações Humana

O relojoeiro Robert Louis Stevenson

Introdução

Robert Louis Stevenson, conhecido por obras como “O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde” e “A Ilha do Tesouro”, também nos trouxe contos filosóficos profundos e satíricos. Um deles é “O Relojoeiro”, uma narrativa curta que, à primeira vista, parece simples, mas abriga camadas de significado sobre a natureza humana, nossa busca por conhecimento e os limites da nossa compreensão do universo. Stevenson usa uma história aparentemente trivial para questionar nossas crenças, nossa ciência e nossa visão de mundo.

 

Sinopse

O Relojoeiro” se passa em um universo microscópico, habitado por seres chamados animálculos, que vivem em uma jarra de água parada. Esses seres, apesar de sua escala diminuta, desenvolvem uma cosmologia sofisticada, baseada em fenômenos que, para nós, são comuns: o movimento de uma jarra, a passagem da luz por uma janela e, principalmente, o funcionamento de um relógio. A história gira em torno da disputa filosófica e religiosa que surge entre os animálculos sobre a existência de um Relojoeiro — uma figura que eles acreditam ser responsável pelo funcionamento do relógio e, por extensão, do universo.

 

A Alegoria de Stevenson sobre a Limitação Humana

Stevenson usa os animálculos como um reflexo da humanidade. Assim como nós, eles tentam entender o universo a partir de sua perspectiva limitada, criando teorias e sistemas de conhecimento baseados em fenômenos que observam, mas que podem estar longe da verdadeira realidade. A ironia é que, enquanto os animálculos debatem fervorosamente sobre o Relojoeiro, o leitor sabe que o relógio é apenas um objeto trivial em um mundo muito maior.  

Essa narrativa nos faz questionar: será que, assim como os animálculos, estamos interpretando o universo de maneira equivocada, presos em nossa própria “jarra” de percepções limitadas? Stevenson brinca com a ideia de que nossa ciência e nossa filosofia podem ser tão frágeis e incompletas quanto as dos animálculos.

 

Ciência vs. Religião: A Disputa Filosófica 

Um dos pontos altos do conto é a sátira sobre o conflito entre ciência e religião. Os animálculos se dividem em duas facções: os Relojoeiristas, que acreditam na existência de um criador responsável pelo relógio, e os céticos, que rejeitam essa ideia.  

 O Relojoeirismo: A crença no Relojoeiro reflete o conceito filosófico do Deus Relojoeiro, popularizado por pensadores como Voltaire e Newton. Os Relojoeiristas atribuem uma ntencionalidade e propósito ao funcionamento do relógio, assim como os humanos muitas vezes projetam significado em fenômenos naturais.  

Os Céticos: Por outro lado, os céticos argumentam que não há evidências concretas da existência do Relojoeiro. Eles usam lógica e materialismo para questionar a crença, mas também caem em extremos, como a ideia de que, se o Relojoeiro existe, ele deve ser um ser sádico que criou o universo apenas para observar o sofrimento dos animálculos.  

 

A Desconstrução do Criador 

Stevenson também explora o dilema teológico do Deus ausente. Os animálculos questionam por que o Relojoeiro, se existe, não se comunica de forma clara com eles. Esse questionamento ecoa o problema do mal na teologia: se há um criador benevolente, por que o sofrimento e o caos existem?  

No entanto, o autor leva essa ideia ao absurdo. Quando o Relojoeiro finalmente aparece, ele não é uma figura divina ou benevolente, mas simplesmente um ser humano que, sem querer, destrói a civilização dos animálculos ao beber a água da jarra. Esse desfecho impulsiona a ideia de que nossa busca por significado pode ser inútil diante da indiferença do universo.

 

A Revolta Poética 

A Ode a um Relojoeiro, um poema de protesto criado pelos animálculos, é uma das partes mais fortes do conto. Stevenson imita a linguagem inflamada de movimentos revolucionários e anticlericais, mostrando como os animálculos projetam paixão e indignação em uma figura que pode nem existir. Essa cena é uma crítica à tendência humana de dramatizar sua relação com divindades e forças superiores.

 

Reflexões Finais 

“O Relojoeiro” é uma obra brilhante que combina humor, ironia e profundidade filosófica. Stevenson nos convida a questionar nossas certezas e a reconhecer as limitações da nossa compreensão do universo. Se você gosta de histórias que misturam ficção com reflexões sobre ciência, religião e existência, esse é um ótimo conto.

E você, o que acha da alegoria criada por Stevenson? Será que, como os animálculos, estamos presos em nossa própria “jarra” de percepções? Deixe nos comentários sua interpretação do conto! E se quiser explorar mais obras de Robert Louis Stevenson, confira o link abaixo.

O Ladrão de Corpos – Robert Louis Stevenson

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