Review Amazing Stories Quarterly Vol.1 No.1

Amazing Stories Quarterly Vol.1, n°1

A Amazing Stories Quarterly surgiu em 1928, três anos após o lançamento da Amazing Stories regular, em 1926. A ideia era que a Amazing Stories Quarterly funcionasse como uma extensão da revista mensal, focando em publicar histórias mais longas e completas. Isso era algo inviável na edição mensal, que muitas vezes dividia as histórias extensas em várias partes. A Quarterly era publicada a cada três meses, oferecendo espaço para um romance completo em cada edição, de acordo com a visão de Hugo Gernsback.

Apesar das ambições de Gernsback, a revista enfrentou muitas críticas. Algumas elogiavam a qualidade das histórias, enquanto outras as classificavam como apenas “aceitáveis.” A primeira edição, em particular, recebeu críticas negativas dos leitores pela escolha do romance de H.G. Wells, que será abordado logo abaixo.

Aviso de Spoilers

Nesta review, exploraremos cada uma das histórias da revista. No entanto, antes de continuar, é importante avisar que podem haver alguns spoilers. Se você deseja ler a revista e tirar suas próprias conclusões, clique no link abaixo. A revista está completamente traduzida.

Amazing Stories Quarterly Vol.1 No.1

A Lua da Condenação – Earl L. Bell

O tempo na Terra acelera misteriosamente. Os dias ficam mais curtos. A Lua está retornando ao seu lugar de origem. O que parece uma piada no início rapidamente se transforma em um evento apocalíptico. O professor Sherard teoriza que o uso massivo de energia atômica desequilibrou o relacionamento entre a Terra e a Lua. Ele acredita que, em breve, a humanidade encontrará sua extinção.

A Lua da Condenação traz uma história já conhecida: uma catástrofe iminente se aproxima, e precisamos encontrar, mais uma vez, uma forma de superá-la. No entanto, alguns pontos se destacam nesse conto. A narrativa pode ser dividida em duas partes. A primeira é uma longa descrição da tragédia, mostrando o desastre se alastrando pouco a pouco. Aqui, vemos um retrato desesperador da humanidade tentando sobreviver de todas as formas possíveis, mas sem sucesso. A cada capítulo, tudo só piora.

As descrições dos males causados pela aproximação da Lua são cruéis. Não sei se são cientificamente corretas, mas são brutais: inundações, o frio implacável e a perda de oxigênio. Outro ponto interessante é a crítica social à ganância humana, sempre tentando lucrar mesmo em meio ao caos. Essa crítica é essencial nesse tipo de conto. A escrita é rica em detalhes e mistura ficção científica com comentários sociais.

Porém, essa primeira parte tem um problema para mim; a segunda parte.

A Exploração na Lua e o Contraste com a Destruição

A partir dos capítulos 13 e 14, os protagonistas (professor Sherard, Mildred e professor Burke) não desistem de viver e encontram uma saída. Eles aproveitam a aproximação da Lua e decidem voar e pousar nela, recomeçando suas vidas. Outros abrigos e postos que ainda resistem fazem o mesmo. O que começa como uma história de destruição se transforma em uma história de exploração e descoberta.

Essa segunda parte cria uma atmosfera intrigante, cheia de mistério e aventura. A ambientação na Lua, com detalhes geológicos e estruturas herméticas, como crateras, aquedutos e cavernas, traz uma sensação de descoberta e a presença de uma civilização antiga.

Mas qual o problema, então? O problema é que essa segunda parte de aventura faz a primeira parecer inútil. Acompanhamos dez capítulos de destruição e tentativas de sobrevivência que poderiam ser facilmente resumidos. Parece desnecessário investir tanto tempo em um longo “primeiro ato”.

Para ser justo, há uma “beleza” bizarra na destruição criada pelo autor, e a história parece falar sobre isso: o esplendor do fim do mundo, a grandiosidade de assistir um planeta gigante voltando à sua era glacial, a melancolia de ver o oxigênio sendo sugado da atmosfera.

Protagonistas e o Equilíbrio entre Ficção Científica e Aventura

O trio de protagonistas é simples e cativante, como esperado. Ernest Sherard é pragmático, esperançoso e preocupado com a segurança. O professor Burke é rabugento, erudito e desinteressado. Mildred desempenha o papel de maravilhamento; todo o fenômeno carrega uma beleza que enche seus olhos.

Esse conto combina ficção científica clássica com romance, mistério e a descoberta de uma civilização perdida, adquirindo um tom mais sombrio. Mas a sensação de que poderíamos pular boa parte dos dez primeiros capítulos permanece.

O Enigma Atômico – Edward S. Sears

Uma grande quantia de dinheiro desaparece de um cofre no banco. A culpa recai sobre o único suspeito possível: Roger Bolton, o caixa do banco. Agora, uma corrida começa para tentar inocentar o pobre Roger, descobrir o verdadeiro culpado e entender como o dinheiro foi tirado do cofre.

O Enigma Atômico tem uma premissa superinteressante, mas uma resolução que, de fato, deixa a desejar. Você (certamente) gostaria que a resposta fosse algo mais elaborado e que a revelação não soasse como uma palestra entediante. Talvez a expectativa aqui pode estar equivocada. Não é bem uma história de investigação, e o enigma não é algo que você consegue desvendar reunindo pistas.

O conto envolve o leitor com um desafio, alimentando a curiosidade até o final ou próximo dele. No entanto, é aí que começa uma literal aula sobre átomos e outros conceitos, quebrando o ritmo da narrativa. Mesmo assim, o conto se mantém divertido em dois terços da trama.

Quando o Adormecido Acorda – H.G. Wells

A história gira em torno de Graham, um homem que acorda após um sono profundo de mais de duzentos anos para descobrir um mundo completamente transformado. Ele é tratado com uma mistura de reverência e cautela, enfrentando a estranheza de um futuro que não compreende, mas que, de certa forma, lhe pertence.

Explorando um Futuro Estranho e Alienante

Bem, Wells, de novo. The Sleeper Awakes, ou When the Sleeper Wakes na versão da revista, é uma história bastante conhecida do autor. Como de costume, Wells usa o enredo para explorar ideias sobre o progresso, alienação, evolução social e tecnológica e o impacto desses avanços sobre o indivíduo. A obra é bem escrita, como já se espera do autor, com uma visão provocativa e muita descrição. Existe um desejo ardente do autor em detalhar os aspectos visuais daquele mundo, algo típico da ficção científica desse período.

Graham, o protagonista, e nós, os leitores, sentimos a estranheza e a confusão através de descrições detalhadas e diálogos entre os personagens. Wells é hábil em nos deixar às cegas no início, revelando aos poucos o que está acontecendo. Ainda assim, muita coisa não é explicada. Um ponto que não dá para deixar escapar é a imaginação do autor. Ele descreve batalhas aéreas antes mesmo dos aviões serem realidade (antes da primeira Grande Guerra), máquinas futuristas, caminhos automáticos e uma espécie de televisão. É futurismo puro.

As Forças e as Fraquezas da Narrativa

Tenho um problema com a quantidade de descrição utilizada pelo autor, e confesso que foi difícil traduzir o texto para português. Wells, em muitos de seus trabalhos, tende a ser didático, e When the Sleeper Wakes não é exceção. Em algumas partes, a história se torna quase uma palestra sobre o futuro da humanidade. Às vezes, ele foca tanto na ideia que deseja transmitir que o ritmo da narrativa acaba sendo prejudicado.

A distopia criada por Wells tem boas nuances, mas algumas ideias soam simplórias, como o famoso controle populacional e trabalho escravo futurista. A narrativa se torna lenta e prolongada em muitos momentos, especialmente nas descrições da nova sociedade em que Graham acorda. Há uma sensação de repetição, já que Graham parece estar preso em um ciclo de descobertas.

Por exemplo; a excelente cena da revolta, onde o povo marcha em direção à Casa do Conselho, é energética e vibrante. É tudo o que uma cena de guerra urbana precisa. No entanto, ela se prolonga em descrições de destruição, morte e fuga do protagonista. Graham é passivo e reativo durante grande parte da história. Ele está no meio de uma crise sem saber nada, apenas que precisa correr e entender mais do mundo. Então, a maior parte da narrativa é composta por ele andando, perguntando e observando, enquanto Wells descreve o cenário ao seu redor.

Reação dos Leitores e Considerações Finais

Os leitores da revista na época de seu lançamento também expressaram opiniões desfavoráveis em relação à história. A escolha de Gernsback por trazer esse conto foi bastante criticada, e a reação foi negativa. Apesar dos pontos negativos que mencionei, estamos falando de H.G. Wells, então, sim, a história é realmente boa.

Wells, embora sua visão social e filosófica seja bem conhecida, não oferece respostas fáceis. Pelo contrário, o contexto é cheio de contradições, com temas complexos e resoluções distantes de serem simples. Ele foi e sempre será uma base sólida e uma fonte de qualidade para ficção científica, inspirando todos que amam esse gênero.

O Vapor Dourado -E.H. Johnson 

Um homem de altíssima inteligência acaba passando por algumas frustrações em sua carreira científica e agora está empenhado em usar seu conhecimento numa empreitada misteriosa e criminosa.

A Estrutura da Narrativa e Seu Apelo Questionável

Gostaria de fazer uma pergunta antes de falarmos da história: você gosta de ler artigos científicos? Provavelmente você não tem o costume de ler artigos científicos, e até mesmo aqueles que leem pulam diretamente para a seção de resultados. O Vapor Dourado me parece um artigo científico misturado com uma biografia sem muito apelo.

Exatamente.

A história conta partes da vida de nosso personagem, aliado às suas aspirações científicas e explicações de alguns processos em que ele vem trabalhando. Não é tão divertido de ler, nem misterioso o suficiente para despertar curiosidade. É chato. Nem mesmo a moral ambígua do personagem, que poderia render um bom estudo, é interessante.

A Falta de Engajamento com o Leitor

A narrativa acaba se afundando em detalhes e explicações que lembram mais um artigo acadêmico do que uma obra de ficção. Essa abordagem poderia ser interessante se houvesse um equilíbrio entre o lado científico e a construção de suspense, mas isso não acontece. A história falha em criar momentos que prendam o leitor ou que o façam se importar com o protagonista.

A tentativa de explorar o lado moral do personagem também não atinge o esperado. Mesmo com uma figura ambígua e um potencial para conflitos internos, o desenvolvimento é raso e sem profundidade. O leitor não encontra motivos para se envolver ou se questionar sobre as ações do protagonista.

Em resumo, O Vapor Dourado tenta unir ciência, biografia e crime, mas o resultado é uma leitura maçante. A falta de ritmo e a ausência de elementos que despertem curiosidade fazem com que a história não funcione nem como um estudo de personagem, nem como uma trama envolvente. É uma mistura que não deu certo.

O Duelo Enigmático – Miles J. Breuer M.D.

Para tentar impedir um confronto físico e brutal entre dois rapazes de uma universidade, é proposto a ambos um duelo não convencional. Os competidores se enfrentam em uma batalha de inteligência, que, embora diferente, não é menos mortal em termos de consequências.

Uma Premissa Inovadora que Merecia Mais Desenvolvimento

Breuer já trabalhou outras vezes na revista e é conhecido por suas ideias inovadoras. Aqui, a ótima premissa certamente merecia mais tempo de desenvolvimento para explorar a competição de quebra-cabeças. Seria mais interessante se víssemos a paranoia dos personagens em imaginar armadilhas à espreita, algo que é descrito de forma rápida no texto.

A prosa tem um charme que nos faz querer mais daquela premissa. No entanto, ela se encerra muito rapidamente, sem o desenvolvimento que eu gostaria de ter acompanhado. O final, por exemplo, é fantástico e me fez pensar em como eu queria que esse conflito tivesse se estendido um pouco mais. Também gostaria que os personagens fossem mais trabalhados para adquirirmos o devido apego a eles.

O Duelo Enigmático oferece um vislumbre de uma ideia fascinante, mas deixa o leitor com a sensação de que poderia ter sido muito mais. A batalha de inteligência é instigante, mas carece do tempo e da tensão necessários para realmente brilhar. Com mais desenvolvimento, a história teria sido ainda mais impactante.

O Terror dos Altos Céus – Frank Orndorff

Dois homens procurados pela polícia decidem bater o recorde de quão alto um ser humano pode chegar nos altos céus. Dotados de microfones, a única coisa que sabemos sobre o que há lá em cima vem através das descrições desses dois homens. No entanto, a jornada logo se transforma em uma terrível descoberta.

Uma Proposta Divertida e Cheia de Suspense

Esse é, provavelmente, o conto mais divertido desta edição. A começar pela proposta: tudo o que temos são as descrições trazidas pelos exploradores enquanto sobem cada vez mais. Eles nos atualizam sobre a paisagem e as condições da atmosfera lá em cima, além dos perigos que enfrentam.

Digo que é a mais divertida porque trabalha muito bem a tensão e o suspense. A história é repleta de descrições que nos deixam ansiosos pela próxima descoberta. O conto consegue alcançar um clímax relevante com o perigo que envolve os personagens, deixando o leitor temendo por suas vidas e curioso sobre sua segurança.

Embora o final seja um pouco previsível para um leitor mais experiente, ele é bem-vindo em uma narrativa que nos deixa às cegas o tempo todo. A história equilibra muito bem a aventura e o mistério, proporcionando uma leitura envolvente e cheia de suspense. Esse é um conto que vale a pena acompanhar até o fim.

Conclusão

Como deu para perceber, Amazing Stories Quarterly Vol. 1 não teve um saldo muito positivo para mim. Acredito que a seleção de histórias não foi a mais interessante, nem a mais sábia. Grande parte dos contos contém longos trechos de descrição e muitas “palestras” científicas e sociopolíticas. Além disso, os finais são, na maioria das vezes, pouco recompensadores.

Fica difícil ler a revista inteira sem sentir tédio. A sensação é de que, embora existam elementos bons, no final, tudo soa maçante e, por vezes, desnecessário. A repetição e a falta de dinâmica em algumas histórias acabam tornando a leitura arrastada e a revista pouco envolvente.

Você encontra a versão original da revista em https://archive.org/

Leave a Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Scroll to Top