Review de Science Wonder Vol. 1, No. 1

Pulp fiction ficção pulp

Três anos após o lançamento de Amazing Stories e poucos meses depois de perder o controle da revista, Hugo Gernsback trabalhou em mais uma revista que definiria a era de ouro das revistas pulp: Science Wonder Stories. Publicada em 1929, essa edição trouxe seis histórias únicas que capturam nossa imaginação com invenções engenhosas, invasões alienígenas clássicas e dilemas estranhos.

Ainda assim, infelizmente, Science Wonder Stories não teve sucesso financeiro. Em 1936, Gernsback a vendeu para Ned Pines. A revista então recebeu o título de Thrilling Wonder Stories. Mais tarde, Pines fundiu a revista com a Startling Stories, que resistiu até o fim de 1955, quando sucumbiu ao declínio da era pulp.

Science Wonder é centrada na ciência e em suas possibilidades, principalmente no campo da invenção. Todas as histórias apresentam uma máquina, veículo ou processo técnico-científico que traz alguns questionamentos e até mesmo desastres. A revista contava com revisores formados em diversas áreas da ciência. Eles tinham a intenção de tornar as histórias mais “científicas”, mas a real influência dessas pessoas ainda é discutível.

Aviso de Spoilers

Nesta review, exploraremos cada uma dessas histórias. Porém, antes de continuar, saiba que podem haver alguns spoilers. Caso queira tirar suas próprias conclusões, clique no link abaixo e leia a revista inteira traduzida.

Science Wonder Vol.1 No1

O Reinado do Raio por Irvin Lester e Fletcher Pratt

Review de science wonder

Durante a Guerra da Aliança do Norte, uma arma poderosa apareceu no campo de batalha: o Raio Adams. Esse dispositivo dispara feixes de raio que destroem qualquer substância instável ao seu redor, como pólvora e combustível. De onde essa arma surgiu e toda a história por trás dela vem à tona nesse conto épico.

Embora não seja amplamente conhecido, Fletcher Pratt é um autor respeitado nos círculos de ficção científica e fantasia, principalmente por suas colaborações com L. Sprague de Camp. Ele geralmente aparece ao lado de seu pseudônimo e co-autor, Irvin Lester. Em O Reinado do Raio, Fletcher oferece uma narrativa dinâmica, rápida e cheia de acontecimentos, que vai da construção de uma máquina por um gênio até uma guerra mundial repleta de mortes.

Uma estranha narrativa

A história é contada de forma singular, desenvolvendo-se a partir de documentos, diários e relatórios.

A princípio, pensamos que Bob Adams, o inventor, conduzirá a trama como protagonista. Porém, não! Logo, a narrativa muda de perspectiva. Passamos a acompanhar a história através dos relatórios de um espião do governo e depois pela visão de outro e assim por diante. Vou dizer que não gosto disso? Pelo contrário. Essa mudança torna a trama ainda mais interessante. Porém, sim, é fácil se perder em alguns momentos e lembrar dos muitos personagens pode ser desafiador. Mas, quando você embarca, a narrativa oferece uma experiência curiosamente diferente. Uma trama cheia de figuras, cada uma desempenhando um papel crucial nesse grande evento.

Contúdo, confesso que os momentos finais são menos empolgantes, pois adentram numa guerra com descrições cíclicas e repetitivas. Ainda assim, O Reinado do Raio é uma boa abertura para Science Wonder. Infelizmente, termina de forma um pouco maçante e sem um desfecho, já que esta edição traz apenas a primeira parte.

O Fabricante de Diamante por H.G.Wells

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Um homem, descansando após um dia de trabalho, recebe a visita de um estranho. Esse estranho tenta lhe vender um diamante e, na tentativa de convencer o comprador, conta a história de como fabricar aquela pedra lhe custou tudo.

H.G. Wells é realmente um nome de peso na ficção científica. Ele precisa aparecer no lançamento de cada nova revista.

Aqui, ele prova mais uma vez que um bom autor pode contar boas histórias sobre qualquer situação. Essa é uma história que começa e termina sem alardes, mas deixa um sentimento amargo.

Você não só fica abatido pela narrativa do estranho, mas também é provocado pela natureza, digamos, nada confiável do narrador. Sem dúvidas, Wells é um verdadeiro mestre. Ele mostra novamente por que seu nome está impresso em inúmeras revistas. É uma história curtíssima, mas com muita qualidade narrativa.

Guerreiros do Espaço por James P. Marshal

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Há 30 anos, uma raça alienígena apareceu em naves esféricas, disparando raios capazes de desintegrar tudo o que tocam. Em meio a essa situação desesperançosa, Arthur Maynard contra-atacou com sua invenção: um veículo que reflete os raios de volta nos invasores. Agora, essas criaturas surgem novamente, espalhando terror e caos. Cabe a Arthur e seu filho, Donald, salvar a Terra mais uma vez.

Você certamente lerá essa história com aquela sensação de estar assistindo um filme família durante uma tarde sossegada de domingo. Alienígenas simples e sem personalidade, pai e filho numa aventura de heroísmo, amadurecimento e um romance de jovens adolescentes. Ainda assim, a narrativa é eficiente, sem dúvidas. Essa história é um exemplo de que as técnicas narrativas funcionam. Elas ajudam a criar tensão, senso de progressão, mudança e empatia pelos personagens, mesmo quando os eventos são telegrafados.

Tudo continua divertido, especialmente considerando que estamos falando de uma história de 1929, quando essas narrativas ainda eram menos recorrentes.

E, no final, quando eu justamente imaginava que seria ali a cisão, ela se mantém fiel ao que vinha apresentando e entrega aquele heroísmo recompensador. Uma história típica e divertida de pai e filho salvando o mundo.

A Virgem de Mármore por Kenny McDowd

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Após cometer um ato terrível, um escultor dedica seus últimos momentos para relatar o encontro com um inventor que não só realizaria seu maior desejo, como também seria a causa de sua maior perda.. Tudo isso está relacionado à sua obra-prima, Naomi, a Virgem de Mármore.

Preciso confessar: essa é minha história favorita desta edição.

Esse conto habita o limite do bizarro, misturando ciência com horror, e me lembrou algo de Frankenstein. Os temas presentes são muitos, acho até difícil descrevê-los. O autor sabiamente inicia a história com a promessa de um desastre sombrio e, através da narrativa em primeira pessoa, cria um tom introspectivo e íntimo. Sabemos o que aconteceu, mas não sabemos porque aconteceu.

Nesse conto, o foco é total no personagem. Wallace Land, o escultor, é consumido pela paixão por sua arte. Ele é um artista talentoso e dedicado, mas também obcecado. Wallace parece cada vez mais isolado, mergulhado em sua arte e distante de qualquer conexão.

Não quero comentar muito sobre os eventos aqui, pois essa é uma história que vale muito a pena ser lida. Não teria achado má ideia se ela fosse ainda mais longa.

A Ameaça do Robô por David H. Keller M.D.

Review de science wonder

Ball retorna de uma longa viagem pelo mundo e encontra apenas para se deparar com um realidade diferente daquela que conhecia. Cada vez mais, as funções humanas são substituídas por máquinas, incluindo o time de futebol em que ele costumava jogar na juventude.

O ano é 1929, e os robôs já eram uma ameaça à humanidade. Quando eles não nos destroem, nos substituem.

A história se concentra na revolta de Ball, acostumado a um mundo menos tecnológico, que agora precisa assistir a uma partida de futebol entre robôs controlados. O conto reflete os temores da época sobre a crescente mecanização e o impacto no emprego e na vida cotidiana.

Essa história é um exemplo das primeiras reflexões sobre as relações entre humanos e máquinas. Ela surge em um período em que a industrialização e o avanço tecnológico estavam remodelando a sociedade. Keller usa essa mudança como pano de fundo para seu conto, incitando o leitor a considerar as consequências não intencionais da inovação tecnológica.

Os personagens, embora não profundamente desenvolvidos, servem para expressar as preocupações e percepções coletivas. Infelizmente, o final segue um rumo que me pareceu fácil e anticlimático, com uma solução irreal. Terminei a leitura me perguntando: “É isso?”

Em resumo, o segmento que trata do time de futebol e as razões para a proliferação de robôs é instigante, mas a solução encontrada deixa muito a desejar. É uma leitura essencial para quem se interessa pelas raízes das discussões sobre automação e seus impactos na sociedade.

A Construção da Ilha Nebulosa por Stanton A. Coblentz

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Um grupo formado por um Presidente, seu secretário, um general do exército e um inventor decide investir em uma ideia ambiciosa: construir uma ilha secreta sobre uma formação vulcânica rochosa. Apesar da grandiosa invenção, as intenções por trás dessa construção não são tão nobres.

O conto foca no processo de fabricação da ilha e no anseio do grupo em finalizar essa obra megalomaníaca. A criação da ilha levanta questões sobre as implicações da ação humana e tecnológica para manipular o ambiente. Coblentz destaca os perigos potenciais de tentar manipular a natureza e sua resposta violenta. A ambição cega do inventor em construir algo histórico ignora os riscos de seu projeto e a instabilidade da natureza. Seus comparsas também estão cegos, focando em apressar o projeto por suas possibilidades estratégicas, sem medir esforços. Com exceção do Secretário, que demonstra ceticismo, todos exalam entusiasmo pelo potencial militar.

Como a narrativa é curta e concentra-se no andamento da construção, logo, não há muito desenvolvimento de personagem. O tom é especulativo, e através de descrições vívidas e imaginativas, consegue nos manter atentos até o fim. Sabemos que os personagens estão construindo uma armadilha para si mesmos, e aguardamos vê-los cair nela.

Conclusão

Science Wonder Vol. 1, No. 1 oferece uma diversidade de formatos da ficção científica pulp focada em um tema comum: invenções, com histórias que exploram desde aventuras espaciais até certos dilemas éticos e… românticos. Alguns podem se afastar por causa dos inúmeros momentos de exposição científica, mas eles estão lá para quem gosta. É um panorama diversificado da ficção científica da época e uma peça ideal para qualquer entusiasta do gênero.

Você pode encontra essa revista completa em https://archive.org/

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